Entre tantos
problemas ambientais da cidade do Recife, vamos elencar 5 não por grau de
importância, mas por, prioritariamente, propor ações de resolução ou mitigação.
1º Sistema
de saneamento precário ou em falta:
Somente 30% da cidade do Recife é saneada. Não existe um
sistema de captação de esgotos e, a maioria das residências despejam suas
fossas nas galerias de águas pluviais. Outras tem um sistema de fossas
convencionais, sem critérios rígidos que possam ser consideradas sépticas.
Estes tipos de sistemas provocam contaminação do lençol freático , que, por sua
vez, contaminam poços artesianos legais e ilegais.
´´Embora tenha uma extensão territorial pequena de
apenas 220 km2, somente 30% deste território possui rede coletora
pública de esgotos, restrita ao centro da cidade e a bairros de maior poder
aquisitivo.
Em síntese, os números do saneamento no Recife são os que se seguem:
Água:
• 88% dos domicílios estão ligados à rede geral de abastecimento de água;
• 9,6% são atendidos por poços ou nascentes, dos quais 8,7% não possuem
canalização – em 1991 esse número era de apenas 2%; esse crescimento se deve
ao descrédito no serviço público;
• cerca de 35 mil pessoas consomem água de fontes sem qualquer controle de
qualidade;
• racionamento crônico que já dura mais de 20 anos;
• precário controle de operação de poços particulares;
• idem sobre o fornecimento de água em carros pipas;
• proliferação da indústria de engarrafamento e distribuição de água mineral.
Esgoto:
• 42,9% dos domicílios estão ligados à rede geral de esgoto ou rede pluvial;
• 46,6% utilizam fossas sépticas e rudimentares.
• 7,8% jogam os dejetos sem tratamento, em vala, rio, lago, mar ou outro
escoadouro;
• 2,7% dos domicílios sequer dispõem de instalações sanitárias, o que
equivale a uma população de 40.000 pessoas;
• cerca de 1 milhão de pessoas sem serviço de coleta de esgoto.
Como se pode observar, em termos de Saneamento, a situação do Recife é
preocupante: o abastecimento de água é insuficiente pela quantidade ofertada,
irregular por sua intermitência, tendo ainda, a qualidade comprometida pela
ocorrência de infiltrações nas canalizações motivadas pelo “enche e seca” das
paradas decorrentes do racionamento.
O Sistema de Esgotamento Sanitário, insuficiente e precário, compromete a
saúde da população e polui os cursos d’água ameaçando hoje, inclusive, a
balneabilidade de nossas praias em diversos pontos monitorados. Cumpre
destacar, também, o sério comprometimento das estruturas de drenagem pelo
lançamento indevido de esgotos sanitários ao longo de décadas.´´ ¹
|
Solução proposta:
De longo prazo:
Sanear a cidade do Recife, construindo sistema de encanamento de esgotos,
construção de ETE´s, lagoas de estabilização e neutralização.
Este tipo de tratamento requer vontade política e plano de
gestão de políticas públicas.
Será necessário mobilização da população para exigir um
plano diretor aprovado na câmara dos vereadores.
2º Poços
artesianos legais e ilegais em grande
quantidade e em profusão:
Existem muitos poços artesianos legais e ilegais na cidade
do Recife. Este problema é grave, pois, a retirada indiscriminada de água no
subsolo além de deixar de irrigar o solo provocando o não abastecimento dos rios, criam bolsões de
ar, quando o nível dinâmico é menor que o nível estático do poço. Geralmente, a
extração demasiada do poço provoca a salinização das águas e solos, além da não
segurança pela qualidade da água, geralmente causada por coliformes fecais
oriundos do não tratamento do sistema de saneamento da cidade, condição colocada
no problema anterior.
Boa Viagem é um dos bairros que mais possui poços
artesianos. Isto devido a quantidade de
residências ( Prédios) com alta densidade demográfica ( hab/m²). Desta forma, o
abastecimento de água não é suportado pela companhia de águas e esgotos (
Compesa). As tubulações de abastecimento são antigas e mal dimensionadas, não
garantindo o abastecimento daquelas residências. A solução tomada pelos
usuários foi a perfuração de poços artesianos. Alguns legais mas, a maioria,
ilegais.
Fig. 01 - Poço artesiano
Solução proposta:
De longo prazo:
Refazer todo sistema de abastecimento de água, com previsão de crescimento
populacional. O sistema Pirapama já está em andamento. Já existe algum progresso para este problema.
3º Densidade
populacional da Cidade aumentando, demasiadamente.
Com o efeito da nova onda de industrialização de Pernambuco
em face do surgimento dos polos industriais no entorno do Recife, houve uma
grande procura e estabelecimento de moradias na Região Metropolitana e na
cidade do Recife.
A necessidade de construção de prédios para moradia, tornou
o Recife em um grande canteiro de obras e a construção civil aumentou
assustadoramente.
Grandes problemas ambientais surgem com este crescimento, a
saber;
Rede de abastecimento de água (falado no item anterior.)
Rede de esgotos (falado no item anterior.)
Ruas sem comportar frota de veículos. Dificuldade de
locomoção, stress gerado por atrasos, acidentes automobilísticos.
Abastecimento de energia elétrica (redes mal dimensionadas)
Poluição por gases de queima de combustíveis fósseis
(automóveis)
Fig 02 - População
Solução proposta:
Criação de cidades satélites aos polos industriais.
·
Reformas nas rodovias.
·
Aumento de linhas férreas com trens elétricos ou
com outro tipo de energia renovável e não poluente, suspensão magnética.
·
Reabertura de vias, estudo de engenharia de
trafego.
·
Utilização e fomentação da ideia de uso de
bicicletas, pistas exclusivas para ciclistas, locação de bicicletas , com
postos estratégicos na cidade, onde possamos utilizar em um ponto e entregar em
outro ponto.
·
Estacionamento de automóveis em pontos de menor
fluxo e, transportes coletivos exclusivos para acesso aos locais de maior fluxo.
4º Avanço do
mar na orla de todo o Recife.
O
avanço do mar afeta todo o litoral brasileiro e, particularmente grave, em Recife e cidades beira mar de Pernambuco. As
causas do avanço do mar estão relacionadas às mudanças climáticas, à erosão
natural provocada pela competição entre o mar e as cidades do litoral, à ocupação
urbana desordenada, a construção do porto de Suape, a destruição dos mangues e
estuários, a modificação de foz de rios,
destruição arrecifes de corais, correntes marítimas desviadas em consequência
de modificações do relevo marinho, entre outros fatores. Como consequência, a água invade e destrói
casas, bares e restaurantes construídos na orla marítima.
Fig. 03 – Avanço do mar em Recife
Soluções propostas:
( Longo prazo)
·
Retirada das construções, respeitando o talude
do mar
·
Proteção dos bancos de corais existentes.
·
Promoção da educação sobre os problemas
ecológicos causados por ocupação desordenada e sem respeito ao meio ambiente,
reconhecendo que a natureza reage a tudo que fazemos.
·
Recuperação de mangues e estuários de rios.
·
Elaboração de estudos de impactos ambientais de
forma que contemplem problemas futuros e meios de resolução e ou mitigação
destes impactos, sem procurar compensação em outras áreas que não resolvam os
impactos provocados pelo problema causado.
5º Poluição
do Rio Capibaribe e Beberibe
Os rios que banham a cidade do Recife, a Veneza brasileira,
são os Rios Capibaribe e Beberibe.
Recife é uma linda cidade que, vista de cima, parece um
paraíso, porém, ao ver mais de perto, a realidade é bem diferente.
Os rios que banham a cidade vêm, desde o início da
colonização (século 16), sofrendo o processo de morte.
A forma de utilização dos rios e a pouca importância dada ao
processo de mantenabilidade de suas condições de vida no que diz respeito ao
desmatamento das matas siliares e a mata atlântica, fator de alimento das
águas, traz o trágico destino dos rios que, em outras épocas foram,
poeticamente citados como: `` Recife é o local onde os Rios Capibaribe e
Beberibe se juntam e vão formar o Oceano Atlântico`` - (João Cabral de Melo
Neto)
O Capibaribe ou Caapiuar-y-be ou Capibara-ybe (ou
ipe), vem da língua tupi e significa rio das capivaras.
Nasce na serra do Jacarará, no município do Brejo da Madre de Deus, na divisa
de Pernambuco com a Paraíba. Seu curso tem cerca de 250 quilômetros e sua
bacia, aproximadamente, 5.880 quilômetros quadrados.
Possui
cerca de 74 afluentes e banha 42 municípios pernambucanos, sendo os principais:
Toritama, Santa Cruz do Capibaribe, Salgadinho, Limoeiro, Paudalho, São
Lourenço da Mata e o Recife.
Navegável no verão até dois quilômetros acima de sua foz por canoas e botes, no
inverno torna-se tão caudaloso que às vezes provoca enchentes e estragos nas
áreas ribeirinhas dos município do interior.
O Capibaribe tem grande importância histórica e social na formação e no
desenvolvimento de Pernambuco e da região Nordeste do Brasil. Foi denominado de
rio-ponte por ter sido, na época colonial, um significativo elo de ligação
entre a cultura da cana-de-açúcar da zona da Mata pernambucana e os currais do
Agreste e do Sertão.
No século XVI, falava-se muito na gente da várzea do Capibaribe. Foi essa
várzea, na paisagem colonial brasileira, a primeira a povoar-se de feitores,
lavradores de cana-de-açúcar e senhores de engenhos que deram origem aos
conjuntos de casas-grandes ligadas pela água do rio e pelo sangue dos colonos.
Foi na várzea do Capibaribe onde primeiro se consolidou a cultura da
cana-de-açúcar no Nordeste, devido ao tipo de solo, o massapê, terra vermelha e
fértil, própria para a agricultura canavieira.
A poluição do Capibaribe já vem do interior, nas
proximidades de Toritama, onde o Rio é chamado pelos moradores daquela
redondeza de “Rio Azul”. Isso por causa
do despejo irresponsável de tinta pelas lavanderias de jeans no pólo de
confecção do Agreste.
O rio Beberibe nasce no município
Camaragibe, a partir da confluência dos rios Pacas e Araçá, e possui 23,7 km de
extensão. Sua bacia hidrográfica mede 81 km2 e envolve uma parte dos seguintes
municípios: Recife (65%), Olinda (21%) e Camaragibe (14%). Devido ao déficit no
saneamento básico de Olinda e Recife, assim como da ocupação urbana das
encostas das margens, o rio é considerado um dos mais poluídos do Estado. Em
todo o seu percurso, porém, ele recebe as águas dos afluentes: Pimenteiras,
Secca, Marmajudo, Dois Unidos, Água Fria, Assador de Varas ou Chã de Piabas,
Beringué ou Roncador, Quimbuca, Tapa d’Água ou Coelhas, Lava-Tripas, e o
Beberibe-mirim ou Morno. Hoje, dentre seus principais afluentes, estão o Canal
da Malária, o Córrego do Euclides e o Canal Vasco da Gama.
O rio Beberibe passa ao norte da cidade
do Recife, misturando-se às águas do rio Capibaribe, que
vêm do sul. Aquele rio nasce de um pequeno olho d’água, situado entre os
municípios de São Lourenço e Olinda, nas matas dos antigos engenhos Timbó e
Massiape, em um lugar chamado Cabeça de Cavalo. Dali recebe as águas de outros
riachos e vertentes.
O vale do Beberibe é bastante estreito,
passando por terrenos baixos e pantanosos, desde a sua nascente até a povoação
do mesmo nome. Por isso, seus terrenos laterais - formados por barro
ferruginoso e massapé - são inundados, tão logo ocorra uma cheia.
Os atuais bairros de Água Fria, Fundão
e Cajueiro nasceram de Beberibe e, no presente, este último tem uma divisão
administrativa bipartida entre os municípios de Olinda e Recife. No período de
1816 à 1817, sobre aquela localidade, um cronista registrou:
Deixando o Recife passa-se pelo povoado de
Beberibe, situado sobre o rio do mesmo nome, ornado de lindas casas de campo; e
que ali se lava quase a maior parte da roupa do Recife, onde há falta de água
doce.
Em pleno século XXI, o problema só se
agravou: as águas do rio Beberibe se encontram extremamente poluídas, sendo
impróprias, inclusive, para a lavagem de roupa; e, por incrível que possa
parecer, quase duzentos anos após a passagem daquele cronista, continua
faltando água doce nos municípios do Recife e Olinda e na maioria dos
municípios do Estado de Pernambuco.
Dado ao levantamento histórico destes
dois rios que banham a cidade do Recife, seus problemas, a mortalidade dos seus
mangues, o problema do lixo que é jogado indiscriminadamente e criminalmente, a
pouca importância dada por falta de políticas públicas, que não enxergam o
futuro, preocupando, tão somente com o presente, já comprometido ( o futuro é
agora!).
Pescador
de Lixo
“Aquele rio jamais se abre aos peixes, / ao brilho, / à
inquietação de faca
/ que há nos peixes. /
Jamais se abre em peixes. / Abre-se em flores
pobres e negras / como
negros. / Abre-se numa flora / suja e mais mendiga
como são os mendigos (…).”
Versos de O Cão sem Plumas
Soluções propostas
(De curto prazo)
·
Limpeza imediata de todo leito dos rios
·
Cumprir a lei de proteção de matas ciliares
·
Fiscalização sistemática e ostensiva contra
despejos de lixo nos rios
·
Fiscalização de todas as empresas potenciais poluidoras
dos rios, fazendo cumprir a legislação sobre utilização das águas.
Soluções propostas:
(De longo prazo)
·
Criação de sistemas de despoluição dos rios como
estações de tratamento (reatores anaeróbicos de fluxo) ao longo dos leitos,
analizando: DQO, DBO, acidez, potabilidade, análises biológicas.
·
Reflorestamento da mata atlântica, dando meios para
que haja, novamente, a alimentação destes rios.
Como podemos verificar, os problemas
elencados estão intrinsecamente ligados. Como uma teia, os problemas ecológicos
sofrem como um todo.
Como fala o Chefe Seatle, em carta
dirigida ao presidente dos Estados Unidos:
´´Isto nós sabemos
– a Terra não pertence ao homem –
o homem pertence à Terra.
Isto nós sabemos.
Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
Todas as coisas estão ligadas.
Tudo o que
acontece à Terra – acontece aos filhos da Terra.
O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela.
O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo.´´ ²
O Trabalho
No início era a água
E da água brotou o homem
E a água se fez rio
E o rio acolheu o homem
E o homem brincou na água
E depois conheceu a fome
E as mãos buscaram ofícios
E o trabalho se fez
. . (Cida Pedrosa)
A Dor
Aquele rio
está na memória
como um cão vivo
dentro de uma sala.
Como um cão vivo
dentro de um bolso.
Como um cão vivo
debaixo dos lençóis,
debaixo da camisa,
da pele.
. . (João Cabral de
Melo Neto)
Fontes:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=474&Itemid=181 Aceesado em: 01/06/12.