NEM TODO PAU
DÁ ESTEIO
Nem todo
pássaro voa,
Nem todo
inseto é besouro
Nem todo
judeu é mouro, ‘
Nem todo pau
dá canoa;
Nem toda
notícia é boa,
Nem tudo que
vejo eu creio,
Nem todos
zelam o alheio,
Nem toda
medida é reta, _
Nem todo
homem é poeta,
Nem todo pau
dá esteio.
Nem toda
água é corrente.
Nem todo
adoçado é mel,
Nem tudo que
amarga é fel.
Nem todo dia
é sol quente;
Nem todo
cabra é valente.
Nem toda
roda tem veio,
Nem todo
matuto é feio,
Nem todo
mato é floresta,
Nem todo
bonito presta,
Nem todo pau
dá esteio.
Nem todo pau
dá resina,
Nem toda
quentura é fogo,
Nem todo
brinquedo é jogo,
Nem toda
vaca é leiteira;
Nem toda
moça é faceira.
Nem todo
golpe é em cheio,
Nem todos
livros eu leio,
Nem todo
trilho é estrada,
Nem toda
gente me agrada.
Nem todo pau
dá esteio,
Nem todo
estrondo é trovão.
Nem todo
vivente fala,
Nem tudo que
fura é bala.
Nem todo
rico é barão;
Nem todo
azedo é limão,
Nem todos
pagam “bloqueio”,
Nem todas as
noites ceio,
Nem todo
vinho é de uva,
Nem toda
nuvem traz chuva,
Nem todo pau
dá esteio.
Nem todo
preto é carvão,
Nem todo
azul é anil,
Nem toda
terra é Brasil,
Nem toda
gente é cristão;
Nem todo
índio é pagão,
Nem toda
agência é Correio.
Nem toda
vage é passeio,
Nem todos
prezam bom nome,
Nem toda
fruta se come,
Nem todo pau
dá esteio.
Nem todo
lente é sabido,
Nem tudo que
é branco é leite,
Nem todo
óleo é azeite,
Nem todo
rogo é ouvido,
Nem todo
pleito é vencido,
Nem todos
vão ao sorteio,
Nem todo
sitio é recreio,
Nem toda
massa é de trigo,
Nem todo
amigo é amigo,
Nem todo pau
dá esteio.
...Luiz
Dantas
Nem tudo que
reluz é ouro,
Nem todo
silente é calado,
Nem todo
Portugal é Fado,
Nem toda
gibão é de couro,
Nem todo
rojão dá estouro,
Nem toda
férias, veraneio,
Nem todo
delírio, devaneio,
Nem todo
pensar tem meta,
Nem todo
homem é poeta,
Nem todo pau
dá esteio.
Nem toda
noite é de breu
Nem toda
escuta é espreita
Nem todo
errado se ajeita
Nem todo
avarento é judeu
Nem todo
judeu é hebreu
Nem toda
mina tem veio
Nem todo
peito é um seio
Nem em todo
canto eu ceio
Nem todo
crente protesta
Nem todo
bonito presta,
Nem todo pau
dá esteio.
Nem todo
crente é fiel
Nem todo
ateu é herege
Nem tudo ao
centro converge
Nem tudo que
amarga é fel
Nem toda
abelha faz mel
Nem todo
poema granjeio
Nem todo
poeta é do meio
Nem toda
força é armada
Nem toda
gente me agrada.
Nem todo pau
dá esteio,
Nem toda
água é potável,
Nem todo sal
tem cloreto,
Nem todo
Tales, de Mileto,
Nem todo
sorriso é amável,
Nem toda
tristeza, abalável,
Nem todo
alinho é asseio,
Nem todo
meio permeio,
Nem toda mão
cabe à luva,
Nem toda
nuvem traz chuva,
Nem todo pau
dá esteio.
Nem todo
sertão é quente
Nem todo
toro é mourão
Nem todo
estribilho, refrão,
Nem todo
touro, valente,
Nem toda
cobra é serpente
Nem todo
riacho vadeio
Nem todo
envolto, rodeio,
Nem todo mal
é de fome
Nem toda
fruta se come,
Nem todo pau
dá esteio.
Nem todo
pecado, confesso,
Nem todo
preso é réu
Nem todo
premio é troféu
Nem toda
passagem, ingresso
Nem toda
ordem é progresso
Nem tudo
errado, aperreio
Nem todo fim
tem um meio
Nem toda
braço é abrigo
Nem todo
amigo é amigo,
Nem todo pau
dá esteio.
...Otacilio
Pires