quarta-feira, 2 de julho de 2014

NEM TODO PAU DÁ ESTEIO ( MEIO MOTE)



NEM TODO PAU DÁ ESTEIO

Nem todo pássaro voa,
Nem todo inseto é besouro
Nem todo judeu é mouro, ‘
Nem todo pau dá canoa;
Nem toda notícia é boa,
Nem tudo que vejo eu creio,
Nem todos zelam o alheio,
Nem toda medida é reta, _
Nem todo homem é poeta,
Nem todo pau dá esteio.

Nem toda água é corrente.
Nem todo adoçado é mel,
Nem tudo que amarga é fel.
Nem todo dia é sol quente;
Nem todo cabra é valente.
Nem toda roda tem veio,
Nem todo matuto é feio,
Nem todo mato é floresta,
Nem todo bonito presta,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo pau dá resina,
Nem toda quentura é fogo,
Nem todo brinquedo é jogo,
Nem toda vaca é leiteira;
Nem toda moça é faceira.
Nem todo golpe é em cheio,
Nem todos livros eu leio,
Nem todo trilho é estrada,
Nem toda gente me agrada.
Nem todo pau dá esteio,

Nem todo estrondo é trovão.
Nem todo vivente fala,
Nem tudo que fura é bala.
Nem todo rico é barão;
Nem todo azedo é limão,
Nem todos pagam “bloqueio”,
Nem todas as noites ceio,
Nem todo vinho é de uva,
Nem toda nuvem traz chuva,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo preto é carvão,
Nem todo azul é anil,
Nem toda terra é Brasil,
Nem toda gente é cristão;
Nem todo índio é pagão,
Nem toda agência é Correio.
Nem toda vage é passeio,
Nem todos prezam bom nome,
Nem toda fruta se come,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo lente é sabido,
Nem tudo que é branco é leite,
Nem todo óleo é azeite,
Nem todo rogo é ouvido,
Nem todo pleito é vencido,
Nem todos vão ao sorteio,
Nem todo sitio é recreio,
Nem toda massa é de trigo,
Nem todo amigo é amigo,
Nem todo pau dá esteio.
...Luiz Dantas

Nem tudo que reluz é ouro,
Nem todo silente é calado,
Nem todo Portugal é Fado,
Nem toda gibão é de couro,
Nem todo rojão dá estouro,
Nem toda férias, veraneio,
Nem todo delírio, devaneio,
Nem todo pensar tem meta,
Nem todo homem é poeta,
Nem todo pau dá esteio.

Nem toda noite é de breu
Nem toda escuta é espreita
Nem todo errado se ajeita
Nem todo avarento é judeu
Nem todo judeu é hebreu
Nem toda mina tem veio
Nem todo peito é um seio
Nem em todo canto eu ceio
Nem todo crente protesta
Nem todo bonito presta,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo crente é fiel
Nem todo ateu é herege
Nem tudo ao centro converge
Nem tudo que amarga é fel
Nem toda abelha faz mel
Nem todo poema granjeio
Nem todo poeta é do meio
Nem toda força é armada
Nem toda gente me agrada.
Nem todo pau dá esteio,

Nem toda água é potável,
Nem todo sal tem cloreto,
Nem todo Tales, de Mileto,
Nem todo sorriso é amável,
Nem toda tristeza, abalável,
Nem todo alinho é asseio,
Nem todo meio permeio,
Nem toda mão cabe à luva,
Nem toda nuvem traz chuva,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo sertão é quente
Nem todo toro é mourão
Nem todo estribilho, refrão,
Nem todo touro, valente,
Nem toda cobra é serpente
Nem todo riacho vadeio
Nem todo envolto, rodeio,
Nem todo mal é de fome
Nem toda fruta se come,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo pecado, confesso,
Nem todo preso é réu
Nem todo premio é troféu
Nem toda passagem, ingresso
Nem toda ordem é progresso
Nem tudo errado, aperreio
Nem todo fim tem um meio
Nem toda braço é abrigo
Nem todo amigo é amigo,
Nem todo pau dá esteio.
...Otacilio Pires

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