sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cinco problemas ambientais e ecológicos da cidade do Recife


Entre tantos problemas ambientais da cidade do Recife, vamos elencar 5 não por grau de importância, mas por, prioritariamente, propor ações de resolução ou mitigação.

1º Sistema de saneamento precário ou em falta:

Somente 30% da cidade do Recife é saneada. Não existe um sistema de captação de esgotos e, a maioria das residências despejam suas fossas nas galerias de águas pluviais. Outras tem um sistema de fossas convencionais, sem critérios rígidos que possam ser consideradas sépticas. Estes tipos de sistemas provocam contaminação do lençol freático , que, por sua vez, contaminam poços artesianos legais e ilegais.
´´Embora  tenha uma extensão territorial pequena de apenas 220 km2, somente 30% deste território possui rede coletora pública de esgotos, restrita ao centro da cidade e a bairros de maior poder aquisitivo.
Em síntese, os números do saneamento no Recife são os que se seguem:
Água:
• 88% dos domicílios estão ligados à rede geral de abastecimento de água;
• 9,6% são atendidos por poços ou nascentes, dos quais 8,7% não possuem canalização – em 1991 esse número era de apenas 2%; esse crescimento se deve ao descrédito no serviço público;
• cerca de 35 mil pessoas consomem água de fontes sem qualquer controle de qualidade;

• racionamento crônico que já dura mais de 20 anos;
• precário controle de operação de poços particulares;
• idem sobre o fornecimento de água em carros pipas;
• proliferação da indústria de engarrafamento e distribuição de água mineral.
Esgoto:
• 42,9% dos domicílios estão ligados à rede geral de esgoto ou rede pluvial;
• 46,6% utilizam fossas sépticas e rudimentares.
• 7,8% jogam os dejetos sem tratamento, em vala, rio, lago, mar ou outro escoadouro;
• 2,7% dos domicílios sequer dispõem de instalações sanitárias, o que equivale a uma população de 40.000 pessoas;
• cerca de 1 milhão de pessoas sem serviço de coleta de esgoto.

Como se pode observar, em termos de Saneamento, a situação do Recife é preocupante: o abastecimento de água é insuficiente pela quantidade ofertada, irregular por sua intermitência, tendo ainda, a qualidade comprometida pela ocorrência de infiltrações nas canalizações motivadas pelo “enche e seca” das paradas decorrentes do racionamento.

O Sistema de Esgotamento Sanitário, insuficiente e precário, compromete a saúde da população e polui os cursos d’água ameaçando hoje, inclusive, a balneabilidade de nossas praias em diversos pontos monitorados. Cumpre destacar, também, o sério comprometimento das estruturas de drenagem pelo lançamento indevido de esgotos sanitários ao longo de décadas.
´´  ¹
Solução proposta:

 De longo prazo: Sanear a cidade do Recife, construindo sistema de encanamento de esgotos, construção de ETE´s, lagoas de estabilização e neutralização.
Este tipo de tratamento requer vontade política e plano de gestão de políticas públicas.
Será necessário mobilização da população para exigir um plano diretor aprovado na câmara dos vereadores.


2º Poços artesianos legais e ilegais  em grande quantidade e em profusão:

Existem muitos poços artesianos legais e ilegais na cidade do Recife. Este problema é grave, pois, a retirada indiscriminada de água no subsolo além de deixar de irrigar o solo provocando o  não abastecimento dos rios, criam bolsões de ar, quando o nível dinâmico é menor que o nível estático do poço. Geralmente, a extração demasiada do poço provoca a salinização das águas e solos, além da não segurança pela qualidade da água, geralmente causada por coliformes fecais oriundos do não tratamento do sistema de saneamento da cidade, condição colocada no problema anterior.
Boa Viagem é um dos bairros que mais possui poços artesianos. Isto devido a quantidade de residências ( Prédios) com alta densidade demográfica ( hab/m²). Desta forma, o abastecimento de água não é suportado pela companhia de águas e esgotos ( Compesa). As tubulações de abastecimento são antigas e mal dimensionadas, não garantindo o abastecimento daquelas residências. A solução tomada pelos usuários foi a perfuração de poços artesianos. Alguns legais mas, a maioria, ilegais.




Fig. 01 -  Poço artesiano


Solução proposta:

 De longo prazo: Refazer todo sistema de abastecimento de água, com previsão de crescimento populacional. O sistema Pirapama já está em andamento.  Já existe algum progresso para este problema.

3º Densidade populacional da Cidade aumentando, demasiadamente.

Com o efeito da nova onda de industrialização de Pernambuco em face do surgimento dos polos industriais no entorno do Recife, houve uma grande procura e estabelecimento de moradias na Região Metropolitana e na cidade do Recife.

A necessidade de construção de prédios para moradia, tornou o Recife em um grande canteiro de obras e a construção civil aumentou assustadoramente.

Grandes problemas ambientais surgem com este crescimento, a saber;

Rede de abastecimento de água (falado no item anterior.)

Rede de esgotos (falado no item anterior.)

Ruas sem comportar frota de veículos. Dificuldade de locomoção, stress gerado por atrasos, acidentes automobilísticos.

Abastecimento de energia elétrica (redes mal dimensionadas)

Poluição por gases de queima de combustíveis fósseis (automóveis)




Fig 02 - População


Solução proposta:
Criação de cidades satélites aos polos industriais.

·         Reformas nas rodovias.


·         Aumento de linhas férreas com trens elétricos ou com outro tipo de energia renovável e não poluente, suspensão magnética.


·         Reabertura de vias, estudo de engenharia de trafego.


·         Utilização e fomentação da ideia de uso de bicicletas, pistas exclusivas para ciclistas, locação de bicicletas , com postos estratégicos na cidade, onde possamos utilizar em um ponto e entregar em outro ponto.


·         Estacionamento de automóveis em pontos de menor fluxo e, transportes coletivos exclusivos para acesso aos  locais de maior fluxo.

4º Avanço do mar na orla de todo o Recife.

O avanço do mar afeta todo o litoral brasileiro e, particularmente grave, em  Recife e cidades beira mar de Pernambuco. As causas do avanço do mar estão relacionadas às mudanças climáticas, à erosão natural provocada pela competição entre o mar e as cidades do litoral, à ocupação urbana desordenada, a construção do porto de Suape, a destruição dos mangues e estuários,  a modificação de foz de rios, destruição arrecifes de corais, correntes marítimas desviadas em consequência de modificações do relevo marinho, entre outros fatores. Como consequência, a água invade e destrói casas, bares e restaurantes construídos na orla marítima.





Fig. 03 – Avanço do mar em Recife


Soluções propostas:
( Longo prazo)

·         Retirada das construções, respeitando o talude do mar

·         Proteção dos bancos de corais existentes.

·         Promoção da educação sobre os problemas ecológicos causados por ocupação desordenada e sem respeito ao meio ambiente, reconhecendo que a natureza reage a tudo que fazemos.

·         Recuperação de mangues e estuários de rios.

·         Elaboração de estudos de impactos ambientais de forma que contemplem problemas futuros e meios de resolução e ou mitigação destes impactos, sem procurar compensação em outras áreas que não resolvam os impactos provocados pelo problema causado.

5º Poluição do Rio Capibaribe e Beberibe

Os rios que banham a cidade do Recife, a Veneza brasileira, são os Rios Capibaribe e Beberibe.
Recife é uma linda cidade que, vista de cima, parece um paraíso, porém, ao ver mais de perto, a realidade é bem diferente.

Os rios que banham a cidade vêm, desde o início da colonização (século 16), sofrendo o processo de morte.
A forma de utilização dos rios e a pouca importância dada ao processo de mantenabilidade de suas condições de vida no que diz respeito ao desmatamento das matas siliares e a mata atlântica, fator de alimento das águas, traz o trágico destino dos rios que, em outras épocas foram, poeticamente citados como: `` Recife é o local onde os Rios Capibaribe e Beberibe se juntam e vão formar o Oceano Atlântico`` - (João Cabral de Melo Neto)

O Capibaribe ou Caapiuar-y-be ou Capibara-ybe (ou ipe), vem da língua tupi e significa rio das capivaras.
Nasce na serra do Jacarará, no município do Brejo da Madre de Deus, na divisa de Pernambuco com a Paraíba. Seu curso tem cerca de 250 quilômetros e sua bacia, aproximadamente, 5.880 quilômetros quadrados.

Possui cerca de 74 afluentes e banha 42 municípios pernambucanos, sendo os principais: Toritama, Santa Cruz do Capibaribe, Salgadinho, Limoeiro, Paudalho, São Lourenço da Mata e o Recife.
Navegável no verão até dois quilômetros acima de sua foz por canoas e botes, no inverno torna-se tão caudaloso que às vezes provoca enchentes e estragos nas áreas ribeirinhas dos município do interior.
O Capibaribe tem grande importância histórica e social na formação e no desenvolvimento de Pernambuco e da região Nordeste do Brasil. Foi denominado de rio-ponte por ter sido, na época colonial, um significativo elo de ligação entre a cultura da cana-de-açúcar da zona da Mata pernambucana e os currais do Agreste e do Sertão.
No século XVI, falava-se muito na gente da várzea do Capibaribe. Foi essa várzea, na paisagem colonial brasileira, a primeira a povoar-se de feitores, lavradores de cana-de-açúcar e senhores de engenhos que deram origem aos conjuntos de casas-grandes ligadas pela água do rio e pelo sangue dos colonos.
Foi na várzea do Capibaribe onde primeiro se consolidou a cultura da cana-de-açúcar no Nordeste, devido ao tipo de solo, o massapê, terra vermelha e fértil, própria para a agricultura canavieira.

A poluição do Capibaribe já vem do interior, nas proximidades de Toritama, onde o Rio é chamado pelos moradores daquela redondeza  de “Rio Azul”. Isso por causa do despejo irresponsável de tinta pelas lavanderias de jeans no pólo de confecção do Agreste.

O rio Beberibe nasce no município Camaragibe, a partir da confluência dos rios Pacas e Araçá, e possui 23,7 km de extensão. Sua bacia hidrográfica mede 81 km2 e envolve uma parte dos seguintes municípios: Recife (65%), Olinda (21%) e Camaragibe (14%). Devido ao déficit no saneamento básico de Olinda e Recife, assim como da ocupação urbana das encostas das margens, o rio é considerado um dos mais poluídos do Estado. Em todo o seu percurso, porém, ele recebe as águas dos afluentes: Pimenteiras, Secca, Marmajudo, Dois Unidos, Água Fria, Assador de Varas ou Chã de Piabas, Beringué ou Roncador, Quimbuca, Tapa d’Água ou Coelhas, Lava-Tripas, e o Beberibe-mirim ou Morno. Hoje, dentre seus principais afluentes, estão o Canal da Malária, o Córrego do Euclides e o Canal Vasco da Gama.
        O rio Beberibe passa ao norte da cidade do Recife, misturando-se às águas do rio Capibaribe, que vêm do sul. Aquele rio nasce de um pequeno olho d’água, situado entre os municípios de São Lourenço e Olinda, nas matas dos antigos engenhos Timbó e Massiape, em um lugar chamado Cabeça de Cavalo. Dali recebe as águas de outros riachos e vertentes.

        O vale do Beberibe é bastante estreito, passando por terrenos baixos e pantanosos, desde a sua nascente até a povoação do mesmo nome. Por isso, seus terrenos laterais - formados por barro ferruginoso e massapé - são inundados, tão logo ocorra uma cheia.
      Os atuais bairros de Água Fria, Fundão e Cajueiro nasceram de Beberibe e, no presente, este último tem uma divisão administrativa bipartida entre os municípios de Olinda e Recife. No período de 1816 à 1817, sobre aquela localidade, um cronista registrou:


Deixando o Recife passa-se pelo povoado de Beberibe, situado sobre o rio do mesmo nome, ornado de lindas casas de campo; e que ali se lava quase a maior parte da roupa do Recife, onde há falta de água doce.


Em pleno século XXI, o problema só se agravou: as águas do rio Beberibe se encontram extremamente poluídas, sendo impróprias, inclusive, para a lavagem de roupa; e, por incrível que possa parecer, quase duzentos anos após a passagem daquele cronista, continua faltando água doce nos municípios do Recife e Olinda e na maioria dos municípios do Estado de Pernambuco.

         Dado ao levantamento histórico destes dois rios que banham a cidade do Recife, seus problemas, a mortalidade dos seus mangues, o problema do lixo que é jogado indiscriminadamente e criminalmente, a pouca importância dada por falta de políticas públicas, que não enxergam o futuro, preocupando, tão somente com o presente, já comprometido ( o futuro é agora!).



Pescador de Lixo


“Aquele rio  jamais se abre aos peixes, / ao brilho, / à inquietação de faca
/ que há nos peixes. / Jamais se abre em peixes. / Abre-se em flores
pobres e negras / como negros. / Abre-se numa flora / suja e mais mendiga
como são os mendigos (…).”
Versos de O Cão sem Plumas



          Soluções propostas

        
(De curto prazo)


·         Limpeza imediata de todo leito dos rios


·         Cumprir a lei de proteção de matas ciliares


·         Fiscalização sistemática e ostensiva contra despejos de lixo nos rios


·         Fiscalização de todas as empresas potenciais poluidoras dos rios, fazendo cumprir a legislação sobre utilização das águas.


Soluções propostas:

          (De longo prazo)


·         Criação de sistemas de despoluição dos rios como estações de tratamento (reatores anaeróbicos de fluxo) ao longo dos leitos, analizando: DQO, DBO, acidez, potabilidade, análises biológicas.


·         Reflorestamento da mata atlântica, dando meios para que haja, novamente, a alimentação destes rios.



Como podemos verificar, os problemas elencados estão intrinsecamente ligados. Como uma teia, os problemas ecológicos sofrem como um todo.
         Como fala o Chefe Seatle, em carta dirigida ao presidente dos Estados Unidos:

´´Isto nós sabemos – a Terra não pertence ao homem –
o homem pertence à Terra.
Isto nós sabemos.
Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
Todas as coisas estão ligadas.

Tudo o que acontece à Terra – acontece aos filhos da Terra.
O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela.
O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo.´´ ²



O Trabalho

No início era a água

E da água brotou o homem

E a água se fez rio

E o rio acolheu o homem

E o homem brincou na água

E depois conheceu a fome

E as mãos buscaram ofícios

E o trabalho se fez

. . (Cida Pedrosa)


A Dor


Aquele rio

está na memória

como um cão vivo

dentro de uma sala.

Como um cão vivo

dentro de um bolso.

Como um cão vivo

debaixo dos lençóis,

debaixo da camisa,

da pele.

. . (João Cabral de Melo Neto)


 Fontes:




http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=474&Itemid=181 Aceesado em: 01/06/12.

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